Terça-feira, 28 de Março de 2006

Olimpíadas masoquistas e bananas - ou como um título pode ser completamente enganador

O seu tom “ai-eu-sou-tão-coitadinho-e-o-meu-aspecto-de-lavadinho-e-bem-vestido-é-mera-ilusão” deixava adivinhar que desconfiar e torcer o nariz a um pedido de “contribuição para uma sande” não seria heresia. E neguei-me a dar a moedinha ao tal senhor de plantão na porta do banco, em frente a minha casa. Mas o percurso até ao quiosque começou a ser pesado. Especialmente para a consciência. Ao voltar a casa, dirigi-me novamente ao homem e perguntei “É fome que o senhor tem?”. Ao que ele respondeu “Sim, queria uma moedinha para comprar uma sande… e também não tenho tabaco”.

O.K. a história deveria ter terminado aqui. Com um simples virar de costas e um sonoro “até looooooogo!”. Mas a minha veia masoquista prendeu-me ali. Sim, porque eu nunca me canso de sentir estúpida e ser gozada mais um bocadinho é encarado como sobremesa!


Não virei costas. Não fui embora. Ainda tive de falar – isto é compulsivo! Levou, então, uma “descascadela” descomunal. Com direito a dedo em riste e tudo! E lá se me enrugou a testa, se indignaram os ombros e se exaltou o tom de voz.



O.K. a história deveria, novamente, ter terminado aqui. Já tinha tentado ajudar e já tinha dito o que achava daquilo tudo (estava mais aliviada, pelo menos). Mas não.


E se é sensível a elevados graus de estupidez, advirto-o a não continuar a ler. Se optar por continuar, a administração deste blogue declina quaisquer responsabilidades.



Venha daí mais uma mousse de banana que ela ficou a gozar um pouco mais o gozo que lhe estavam a dar.


Disse “mas se tem fome, espere só um bocadinho que vou a casa, vivo aqui em frente, e trago-lhe um pão”.


E lá foi ela preparar uma sande de presunto para o homem, pensando para si própria que tinha sido a melhor acção. Apesar de o ter feito rápido, toda aquela cena parecia ser filmada em câmara lenta, com a banda sonora que costuma acompanhar um atleta a cortar, triunfalmente, a meta. Passou 1 minuto, entretanto.


Abre, então, o portão; triunfante, exibindo nas mãos a pródiga sande, qual chama olímpica, e dirige-se para a porta do banco. E eis que a expressão “dar com a cara na porta” ganhou outro simbolismo.


Não é que o grandessíssimo piiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii tinha ido embora?


Pensei: será que tudo isto se tinha evitado se, em vez da sande, lhe tivesse logo oferecido um prato de tomatada?

8 comments:

Woman Once a Bird disse...

Pelo menos tinhas ficado mais compensada (atirar-lhe com um prato de tomatada).

bonifaceo disse...

Muitos pedintes são-no por acomodação... e ainda por cima alguns têm vícios, ou seja, pedir dá para alimentação e ainda sobra para os vícios...

Aristóteles disse...

Não engana ninguém: com esse visual, com esse ar destomatado e com essa habilidade para mendigar, só podia ser o Belmiro de Azevedo!

Pedinte disse...

Não pude fazer nada: eu queria a sande de presunto, mas obrigaram-me a comer a tomatada!

jomaolme disse...

Qd me encontro numa situação como a tua reajo exactamente da msm forma...Dinheiro não dou...Se tem fomo arranjo qlqr coisa p comer, se tem sede dou-lhe alguma coisa para beber mas dinheiro...NUNCA!!
Não pago vícios a ninguém q ninguém me paga os meus...
Mé, pelo menos ficaste com a consciência tranquila...

Beijokas

bartleby disse...

Oh minha amiga! Eu como pequeno almoço só comi uma sandes de queijo com pão de antes de ontem! Essa de presunto ainda está boa? Ou já a comeste? O que sentiste quando a comeste?

salomé disse...

Já a comi, b. E, ao fazê-lo, pensei: "O bartleby haveria de gostar desta sande de presunto!" ;)

Zélia disse...

Esta gente é mesmo mal agradecida!
Estou a imaginar a tua cara á procura do homem :) Lol
Beijocas